29/09/2015

Rio Douro - As cheias de 1909

Entre os dias 17 e 25 de Dezembro de 1909, as populações da cidade do Porto e de Gaia assistiram, impotentes, à destruição das suas zonas ribeirinhas, por ação da cheia do rio Douro. 
Ruas e edifícios nas zonas ribeirinhas do Porto e de Gaia foram inundados e a fúria das águas provocou a destruição total ou parcial de inúmeras habitações. Cerca de 40 embarcações de médio e grande porte e mais de 700 pequenas embarcações de trafego fluvial foram arrastadas e destruídas (total ou parcialmente).
 O caudal máximo atingido na Régua (a montante) foi de 16 700 m3/s, tendo o nível das águas estado a 80 centímetros do tabuleiro inferior da ponte Luiz I.
 A imprensa noticiava que:  "Para se avaliar do que foi o volume dos estragos, causados pela a violência da corrente registada no rio, por essa altura, bastará referir que entre vapores de carga, chalupas, iates, patachos, barcos de pesca e de recreio, afundaram-se ou saíram barra fora, desgovernados, por efeitos da enchente, nada mais nada menos do que quarenta embarcações e mais treze rebocadores. Morreram oito pessoas, entre as quais figuravam três barqueiros e cinco tripulantes, incluindo o capitão, de um navio alemão que se afundou." (Fonte: JN)

 
O vapor "Sachsen" naufragado na sequência das cheias do Douro de 1909.

O Vapor de pesca Alemão SACHSEN, 42m, veio rio abaixo na cheia do Douro de 12/1909, depois da sua companha se ter posto a salvo em terra, foi encalhar numas pedras junto do Cabedelo da barra, tendo sido considerado perda total constructiva, contudo a Empresa Portuense de Pescarias comprou-o como salvados em 1910 e reconstruí-o, passando a denominar-se AZEVEDO GOMES, e voltou à pesca da costa e do Cabo Branco. Nos anos 30 foi comprado pela Sociedade de Pescarias Arrábida, de Lisboa, que preservou o nome, e continuou a fainar até aos anos 50, altura em que foi abatido para sucata.O SACHSEN descarregava as suas capturas de peixe para lanchas no cais Júlio de Carvalho, na margem esquerda, diante do cais do Marégrafo, e o peixe era vendido nas linguetas da Cantareira. (informação de Rui Picarote Amaro)

A chuva continuava a cair com intensidade, sem parar. A maré subia e invadia com suas águas os estabelecimentos comerciais e habitações das zonas ribeirinhas do Porto e de Gaia. [...]
Na manhã do dia 22, o mercado ribeirinho da Gaia «fugira» para a Rua Direita. No Porto, a Praça da Ribeira estava meia encoberta de água.[...]
Ao fim do dia, no Porto, a Praça da Ribeira, estava submersa. Na noite desse sinistro dia
22 de Dezembro, o céu estava negro, o vento sul soprava demolidor, as águas corriam 
fortes e barrentas.
A medição da velocidade do caudal registava as 11 milhas horárias, entretanto um 
novo telegrama chegava da Régua, o qual dizia que as águas continuavam a subir, sem 
parar.
Era a catástrofe.
Às primeiras horas do dia 23, o rio galgava o Muro dos Bacalhoeiros, no Porto. O 

pânico estava instalado entre os moradores das duas margens do Douro. A força das 
águas arrastou tudo, a Foz parecia um cemitério de restos de embarcações.
Ao meio-dia, com a preia-mar, o nível do rio estava a cerca de 80 centímetros do 

tabuleiro inferior da ponte Luís I. É programada a demolição deste com explosivos. 
Está batido em um metro o recorde das cheias de 1860.
 (in Casos de Estudo- As Cheias do Douro em 1909)
  
Arcos de Miragaia


A Ribeira e o caudal do Rio Douro

A Avenida Diogo Leite - Vila Nova de Gaia

 
Destroços da cheia de dezembro de 1909 na praia do Carneiro (ou do Castelo, ou de Felgueiras), na Foz do Douro.

 
 Fotografias da
Edição da "Tabacaria Cubana", sobre as cheias de 1909. 
Conhecem-se desta série específica, 
21 postais numerados (1 ao 21), mais 1 sem numero
retiradas de 

05/09/2015

Beco do Chão Salgado



 "AQVI FORAO AS CAZAS ARAZADAS E SALGADAS DE IOZE MASCARENHAS EXAUTHORADO DAS HONRAS DE DVQUE DE AVEIRO E OUTRAS E CONDEMNADO POR SENTENÇA PROFERIDA NA SUPREMA JUNTA DA INCONFIDENCIA EM 12 DE JANEIRO DE 1759 IUSTICIADO COMO HUM DOS CHEFES DO BARBARO E EXECRANDO DESACATO QVE NA NOITE DE 3 DE SETEMBRO DE 1758 SE HAVIA COMMVLADO CONTRA A REAL E SAGRADA PESSOA DE EL REI NOSSO SENHOR D. IOZÉ NESTE TERRENO INFAME SE NÃO PODERA EDIFICAR EM TEMPO ALGVM".

Num pequeno beco mesmo junto aos Pasteis de Belém, chamado Beco do Chão Salgado, existe um padrão memória que se destina a evocar um acontecimento histórico. Após o atentado falhado contra Dom José I, foram executados alguns dos nobres envolvidos e arrasado o palácio do Duque de Aveiro que aí se localizava, sendo salgado o chão para que nada mais se construísse ou nascesse neste local . O padrão data de 1759 e é de autor desconhecido.
Com o tempo, essa determina
ção foi esquecida e o padrão encontra-se rodeado por edificações e esquecido por muitos dos que passam nesta zona.


O monumento é composto por uma coluna, envolta em 5 anéis, um por cada cabeça derrubada, assente sobre uma base quadrangular e degrau.

                                                                Fotografia Ana Luísa Alvim | CML
                                              Arquivo Municipal de Lisboa, Armando Serôdio.SER/I03703



 

02/09/2015

Aforamento e Casas Foreiras




Placas indicadoras a que instituição determinada casa era foreira. Normalmente, era a um convento (S. Pedro de Alcântara, S. Vicente de Fora, etc.), à Mitra ou ao Cabido, ou então à Câmara. Havia também forma de identificar quem eram os senhores do domínio directo do prazo sem recorrer a palavras, como por exemplo o uso de uma mitra esculpida sobre a porta, um arcanjo esculpido (no caso do Porto, símbolo do Cabido da Sé). 
O aforamento, ou emprazamento, era um contrato enfitêutico que gerava o desmembramento da propriedade em dois domínios. O senhorio, titular do domínio directo, cedia a outrem (foreiro) o domínio útil de um bem fundiário, impondo-lhe o cumprimento de encargos diversos, nomeadamente o pagamento de um foro. O aforamento podia ser perpétuo ou em vidas. Os prazos de vidas distinguiam-se, quanto à forma de transmissão do domínio útil, entre os de nomeação livre (a vida vigente tinha liberdade para nomear a sua sucessora) e os de nomeação restrita (as vidas eram determinadas aquando da celebração do contrato). Independentemente desta diversidade de situações, o aforamento conferia ao enfiteuta um vínculo estável com o imóvel e um leque alargado de direitos de propriedade, nomeadamente a faculdade de o alienar, ceder ou subenfiteuticar, desde que com o consentimento do senhorio. (1)

Lisboa, Rua do Olival

Casa foreira a S. Vicente
 
Funcionava como um mecanismo de controlo exercido por parte daquilo a que hoje chamaríamos "os senhorios" (mas que não eram bem bem senhorios, porque arrendamento e emprazamento eram coisas diferentes), mecanismo de controlo usado sempre que havia dúvidas ou era considerado necessário. Por exemplo, um foreiro deixava de pagar o foro e alegava não ter de pagar nada, por não haver título válido de emprazamento. Depois de provado em tribunal que afinal existiam provas documentais, em como certo edifício estava em chão que havia sido emprazado sucessivamente pela instituição x ou y, esta poderia mandar colocar uma placa no edifício, para reafirmar a posse do domínio directo do prazo.
Embora por motivos diferentes, algumas irmandades insculpiram ou colocaram placas também nos túmulos que tinham a seu cargo.



informação dada por Francisco Queiróz e Manuela Alves  
(1) - Fonte J. V. Serrão, M. Motta e S. M. Miranda (dir), 
e-Dicionário da Terra e do Território no Império Português