17/01/2017

A Burra - O Cofre anti-corrupção

Arcaz, também designado por Burra

No Museu do Hospital Termal das Caldas da Rainha existe uma peça museológica muito curiosa e invulgar. Trata-se de uma Burra, designação atribuída desde tempos remotos a uma espécie de arcaz blindado, chapeado a ferro, à prova de fogo e de roubo, destinado à reserva de bens preciosos, ouro, jóias, dinheiro e até relíquias para fins religiosos. Neste caso servia para guardar os documentos antigos, contratos, escrituras, fórmulas químicas de remédios, e logicamente os fundos de maneio do próprio hospital.

Burra, séculos XVI a XIX

 As origens da burra remontam à Idade Média, quando estes robustos e pesados cofres eram transportados no dorso de uma azémola para a recolha dos impostos régios, ou para o transporte do soldo com que se pagavam os exércitos. Os exemplares mais antigos são estriados a ferro, e apenas possuem uma fechadura. Mas os mais recentes, construídos entre as centúrias de quinhentos e oitocentos, são blindados e possuem três fechaduras, o que denuncia a preocupação de responsabilizar a sua abertura por três entidades diferentes. Este tipo de cofres eram comummente usados nas instituições públicas, onde a administração e tesouraria se repartia por diferentes responsáveis, com o fim de evitar o seu conluio num hipotético desfalque. 




Anúncio publicado na imprensa brasileira do século XIX sobre as virtudes destas "burras" francesas que seriam supostamente incombustíveis. Este tipo de cofres destinavam-se aos escritórios das grandes empresas, das agências de câmbio ou das pequenas filiais de província dos grandes bancos e argentárias.

Texto de José Carlos Vilhena Mesquita 



Encontramos outras referências sobre o uso de cofres desta natureza, como por exemplo na história da Junta do Depósito Público de Lisboa:

A Junta do Depósito Público de Lisboa remonta ao "Depósito da Cidade", criado em Lisboa em 1518, com a finalidade de proceder à recolha de objectos ou valores, por ordem da Justiça, e tendo como responsável o "depositário dos juízes da cidade", ou "depositário da cidade", "recebedor dos depósitos de Lisboa" ou, posteriormente, "tesoureiro dos depósitos".

O "recebedor dos depósitos" e o respectivo escrivão são mencionados em Carta Régia de D. Manuel, datada de 24 de Outubro de 1519, bem como o respectivo mantimento, os quais não deviam deter os cargos por um período superior a três anos. Durante o reinado de D. Sebastião o Depósito funcionava no Mosteiro de Santo Elói, utilizando-se para a arrecadação do dinheiro e objectos uma arca com três fechaduras.  


Também na conservação dos livros das Inquirições, encontramos uma referência nas Ordenações Afonsinas, no livro 1, título XXIII (“Dos Corregedores das Comarcas, e cousas que a seus Officios perteencem”), número 11:

 “E aja cada hũu Concelho hũa Arca, em que sejam postas essas Inquirições, e aja duas chaves, e hũa tenha hũu dos Juizes, e a outra hũu Taballião, qual o Corregedor entender, que he mais convinhavel pera ello (...)”


 

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