28/03/2017

Invasões Francesas



O relato dos acontecimentos de 29 de Março de 1809 segundo o pároco de Lordelo: “Aos vinte e nove dias de Março, pelas nove horas da manhã, infelizmente entrou uma coluna do exército francêz por esta freguesia de Lordelo, matando todas as pessoas que encontrava, não somente dentro de suas cazas, mas também fora dellas, saqueando-as e roubando-as ao mesmo tempo e fazendo todo o género de hostilidades. Mandando proceder na averiguação das pessoas que morreram, pertencentes a esta minha freguesia e que eram meus freguezes, e que todos foram sepultados pelos campos e caminhos desta freguesia, por ordem do governo francêz então dominante, achei serem estes” .


 

Documento onde se lê "Manoel, filho legitimo de Manoel Francisco de Sousa, do lugar de Pereiró, desta freguezia de Ramalde, foi morto pelos franceses na invasão que fizeram nesta freguezia, no dia 29 de março de mil oitocentos e nove". E continua repetindo quase cerca de cem nomes de mortos dos lugares de Francos, Campinas, Requesende, Ramalde de Baixo, etc.
Há 208 anos atrás, no dia 29 de Março de 1809, durante a 2ª invasão francesa, que iria dar origem à conhecida tragédia da Ponte das Barcas, o exercito francês entrou em Ramalde matando toda a gente que encontrava pelo caminho.

Publicação de José Manuel Varela



08/03/2017

Do Desporto Escolar ao Futebol

Equipa do Liceu da Horta, Açores, em 7 de Fevereiro de 1910

O desporto escolar na Europa iniciou-se com eficaz sucesso nas ilhas britânicas. Sabemos também que nos países nórdicos, em particular na Suécia e Dinamarca, os colégios de elite, davam especial ênfase à máxima latina «mens sana in corpore sano» (alma sã em corpo são), incentivando as actividades físico-desportivas de forma competitiva.
Em Portugal essas ideias já haviam sido esboçadas pelos nossos iluministas da educação, sobretudo Ribeiro Sanches e Luís António Verney, que influenciaram a criação do Colégio dos Nobres, onde a prática regular de exercícios físicos era considerada fundamental para o aperfeiçoamento da esgrima e da equitação, essas sim, áreas de formação curricular específica.
No século seguinte, os colégios do ensino privado em Lisboa - e excepcionalmente, no Porto (no colégio do pai do Ramalho, onde o Eça estudou, já se faziam pela manhã exercícios de adestramento físico) - praticavam-se actividades gimnodesportivas, para incrementar entre os jovens as relações de amizade, o culto da camaradagem e da competição saudável.
O desporto escolar, embora iniciado no século XIX, seria na centúria imediata que tomaria o seu caminho de progresso e de institucionalização oficial. Nesse aspecto, a República e os novos projectos educativos então levados a cabo, tendentes à libertação das classes desfavorecidas através da educação, foram decisivos para o desenvolvimento do desporto escolar. Existem inúmeras notícias, na imprensa dos primórdios de Novecentos, que relatam actividades desportivas nas nossas escolas do ensino secundário e até universitário.
Mas o que eu não sabia, nem imaginava, era que o futebol já estivesse enraizado no ensino escolar ainda antes da República, nomeadamente nas ilhas dos Açores, como se comprova por esta foto da equipa do Liceu da Horta, obtida em 7 de Fevereiro de 1910. Os jovens, acompanhados do seu presidente (treinador), envergam um equipamento nitidamente inglês - calção até ao joelho, meias altas, botas acima do tornozelo, e bola de couro cozido aos gomos. Curiosamente o "jersey" é de bico, não tem a forma de camisa, como era apanágio dos equipamentos britânicos oitocentistas.
Para terminar faço lembrar que a prática do futebol nasceu entre as classes operárias britânicas, representando as primeiras equipa os bairros londrinos, os sindicatos e só mais tarde os colégios e escolas públicas. O primitivo jogo da bola, depois aperfeiçoado com as novas regras que deram origem ao futebol, tornou-se num símbolo de afirmação popular dos Wighs, posteriormente empalmado pelo partido trabalhista. Os Torys, partido conservador, em contraposição, apoiou a formação de equipas representativas de instituições de elite, mas também de vilas e cidades, cujas cores mais comuns eram o azul ou o branco. As equipas mais populares, oriundas das classes obreiras, usavam sobretudo a cor vermelha.