18/04/2019

O Fim da Traineira Santa Isabel


Traineira SANTA ISABEL já encalhada junto da praia, pronta a ser varada no areal, em fins de dezembro de 1961.
 
A 23/12/1961, as traineiras de pesca da sardinha da praça de Matosinhos fundearam pela 1.ª vez na futura Doca n.º 2 do porto de Leixões, aind
a não concluída, por autorização especial do capitão do porto, permitindo assim que os pescadores passassem com a família a noite de Natal (o que para muitos não seria possível, se as embarcações ficassem ancoradas no lugar habitual, já que devido ao mau tempo, teria que ser reforçado pessoal de quarto).

Afinal, esta nobre intenção veio indiretamente originar que cerca de uma centena de traineiras ficassem «aprisionadas» na futura Doca n.º 2 até à tarde de 26/12/1961, do que não terão resultado prejuízos de maior pois o temporal impediria, de qualquer maneira, a saída das embarcações; e, mesmo que uma ou outra se fizesse ao mar, a maré não devia ser compensadora.

Cerca das 15:00 de 25/12/1961, quando as traineiras procuravam sair para a Doca n.º 1 a caminho dos seus ancoradouros junto da rampa do Pescado no Anteporto, verificou-se um acidente:a traineira SANTA ISABEL, devido à forte ressaca, foi atirada com violência para cima da estacaria de aço da ensecadeira, que ainda dividia as 2 docas por debaixo da Ponte Móvel de Leixões e, rodopiando, ficou encalhada de proa para os Céus e a popa completamente mergulhada na água; a bordo, encontravam-se apenas 6 dos 49 homens da tripulação, que foram atirados à água e nadaram para terra tendo apanhado um susto e um banho forçado (David de Jesus Lapa, Mário Augusto da Fonseca, José Cândido de Oliveira Lopes, Manuel Faria Novo e Gonçalo Calheiro Braga).

Quando se deu este desastre, já tinham saído a estreita «barra» - que apresenta uma passagem livre de obstáculos com escassos 15 m - cerca de 20 traineiras que tinham enfrentado grandes dificuldades devido à força do mar; fechando a abertura que liga as 2 docas, a SANTA ISABEL obrigou a forçada inatividade uma centena de traineiras;

No dia seguinte ao desastre, pessoal da Administração dos Portos do Douro e Leixões, inclusivamente mergulhadores, procederam a diversos trabalhos para 'safar' a SANTA ISABEL e libertar as outras embarcações que, cerca das 18h00 de 26/12/1961, puderam deixar a Doca n.º 2 e fundearem na Bacia ou Anteporto (apenas a traineira MONTE SINAI ficou ligeiramente pousada sobre uma das estacas, mas bastou um pequeno puxão de um rebocador que andava próximo para a 'safar').

A SANTA ISABEL, construída em 1959, pertencia a Inocêncio Pinto Soares residente na R. de Gago Coutinho, 235, em Matosinhos, e tinha como mestre Mário de Oliveira Lopes morador na R. de Silva Pinheiro, na mesma freguesia.

Durante a tarde e parte da noite de 25/12/1961, tripulantes e trabalhadores empregados do armador da traineira procuraram retirar de lá alguns apetrechos de pesca.Principalmente a 25/12/1961 por ter sido feriado, e também a 26/12/1961, milhares de pessoas estiveram no local a ver a traineira de proa apontada ao céu, enchendo a ponte móvel, sobre cujos varandins ficavam debruçados longo tempo fazendo os seus comentários.

Pelas 07h30 de 20/01/1961 (ou 19/01?), acercaram-se da traineira SANTA ISABEL 2 batelões que suspenderam o barco à proa, serviço este realizado na maré baixa, aguardando-se, depois, a preia-mar que se verificou às 14:27. Na saída, colaborou também o batelão MARIETA cuja função consistiu em que fosse permitida a posição horizontal com a elevação à superfície da ré, visto à saída daquele ponto se notar a existência de pedregulhos e dificultar os trabalhos, os quais foram superiormente dirigidos pelo comandante Lourenço Mateus, chefe dos serviços marítimos da A.P.D.L.. Após a traineira SANTA ISABEL ter tomado a posição desejada, o rebocador VANDOMA, também da A.P.D.L., rebocou o barco sinistrado e os outros 3 que lhe serviam de apoio para a Bacia onde a traineira ficou varada no areal junto ao molhe Norte aguardando as reparações provisórias para entrar de novo ao serviço.


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