16/08/2017

Caixão de esfrega



O caixão de esfrega, ou caixão de lavar,  servia para apoiar os joelhos quando se esfregava os soalhos com o célebre sabão amarelo. Como o pavimento era de tábuas de madeira, as mulheres, de joelhos, esfregavam-no com sabão e uma escova de pelo bem rijo. Por debaixo dos joelhos, as mulheres costumavam colocar um pano espesso de lã.

28/03/2017

Invasões Francesas



O relato dos acontecimentos de 29 de Março de 1809 segundo o pároco de Lordelo: “Aos vinte e nove dias de Março, pelas nove horas da manhã, infelizmente entrou uma coluna do exército francêz por esta freguesia de Lordelo, matando todas as pessoas que encontrava, não somente dentro de suas cazas, mas também fora dellas, saqueando-as e roubando-as ao mesmo tempo e fazendo todo o género de hostilidades. Mandando proceder na averiguação das pessoas que morreram, pertencentes a esta minha freguesia e que eram meus freguezes, e que todos foram sepultados pelos campos e caminhos desta freguesia, por ordem do governo francêz então dominante, achei serem estes” .


 

Documento onde se lê "Manoel, filho legitimo de Manoel Francisco de Sousa, do lugar de Pereiró, desta freguezia de Ramalde, foi morto pelos franceses na invasão que fizeram nesta freguezia, no dia 29 de março de mil oitocentos e nove". E continua repetindo quase cerca de cem nomes de mortos dos lugares de Francos, Campinas, Requesende, Ramalde de Baixo, etc.
Há 208 anos atrás, no dia 29 de Março de 1809, durante a 2ª invasão francesa, que iria dar origem à conhecida tragédia da Ponte das Barcas, o exercito francês entrou em Ramalde matando toda a gente que encontrava pelo caminho.

Publicação de José Manuel Varela



08/03/2017

Do Desporto Escolar ao Futebol

Equipa do Liceu da Horta, Açores, em 7 de Fevereiro de 1910

O desporto escolar na Europa iniciou-se com eficaz sucesso nas ilhas britânicas. Sabemos também que nos países nórdicos, em particular na Suécia e Dinamarca, os colégios de elite, davam especial ênfase à máxima latina «mens sana in corpore sano» (alma sã em corpo são), incentivando as actividades físico-desportivas de forma competitiva.
Em Portugal essas ideias já haviam sido esboçadas pelos nossos iluministas da educação, sobretudo Ribeiro Sanches e Luís António Verney, que influenciaram a criação do Colégio dos Nobres, onde a prática regular de exercícios físicos era considerada fundamental para o aperfeiçoamento da esgrima e da equitação, essas sim, áreas de formação curricular específica.
No século seguinte, os colégios do ensino privado em Lisboa - e excepcionalmente, no Porto (no colégio do pai do Ramalho, onde o Eça estudou, já se faziam pela manhã exercícios de adestramento físico) - praticavam-se actividades gimnodesportivas, para incrementar entre os jovens as relações de amizade, o culto da camaradagem e da competição saudável.
O desporto escolar, embora iniciado no século XIX, seria na centúria imediata que tomaria o seu caminho de progresso e de institucionalização oficial. Nesse aspecto, a República e os novos projectos educativos então levados a cabo, tendentes à libertação das classes desfavorecidas através da educação, foram decisivos para o desenvolvimento do desporto escolar. Existem inúmeras notícias, na imprensa dos primórdios de Novecentos, que relatam actividades desportivas nas nossas escolas do ensino secundário e até universitário.
Mas o que eu não sabia, nem imaginava, era que o futebol já estivesse enraizado no ensino escolar ainda antes da República, nomeadamente nas ilhas dos Açores, como se comprova por esta foto da equipa do Liceu da Horta, obtida em 7 de Fevereiro de 1910. Os jovens, acompanhados do seu presidente (treinador), envergam um equipamento nitidamente inglês - calção até ao joelho, meias altas, botas acima do tornozelo, e bola de couro cozido aos gomos. Curiosamente o "jersey" é de bico, não tem a forma de camisa, como era apanágio dos equipamentos britânicos oitocentistas.
Para terminar faço lembrar que a prática do futebol nasceu entre as classes operárias britânicas, representando as primeiras equipa os bairros londrinos, os sindicatos e só mais tarde os colégios e escolas públicas. O primitivo jogo da bola, depois aperfeiçoado com as novas regras que deram origem ao futebol, tornou-se num símbolo de afirmação popular dos Wighs, posteriormente empalmado pelo partido trabalhista. Os Torys, partido conservador, em contraposição, apoiou a formação de equipas representativas de instituições de elite, mas também de vilas e cidades, cujas cores mais comuns eram o azul ou o branco. As equipas mais populares, oriundas das classes obreiras, usavam sobretudo a cor vermelha.

04/02/2017

O Padre Grilo


Padre Grilo - 1920


O Padre Manuel Francisco Grilo nasceu a 14 de Maio de 1888, em Ílhavo.
Filho de mãe padeira e pai pescador que andava na pesca do bacalhau, cedo conheceu as dificuldades da vida. 
Estudou no Seminário de Coimbra, diocese onde foi ordenado sacerdote em 1910, com 22 anos. 
Pelas suas ideias inovadoras a vários níveis, que costumava aplicar na ajuda aos mais desfavorecidos, incompatibilizou-se com o poder instituído, o que o levou a ser julgado, condenado e expulso do Distrito de Aveiro, em 1913. Foi então viver para Leça da Palmeira, junto de familiares.
A vontade de saber levou-o a concluir o curso de engenheiro agrónomo e o do Conservatório de Música, mostrando também grande vocação para a pintura.
Como padre, desde logo decidiu combater, com todas as suas forças, a miséria moral e física que existia na terra em que vivia. E
m 1928 fundou a Conferência de S. Vicente de Paulo, e a Sopa dos Pobres, que chegou a alimentar e a vestir mais de 600 pessoas da classe piscatória.
 
Capela da Obra do Padre Grilo, Matosinhos
No início da década de 40 funda a Obra Regeneradora dos Rapazes da Rua e o seu edifício definitivo é inaugurado a 28 Julho de 1963, com o nome de Obra do Padre Grilo, em Matosinhos.
Faleceu com 79 anos a 1 de Novembro de 1967, em Matosinhos, onde se encontram os seus restos mortais.

Como curiosidade acrescente-se que  um seu irmão , o piloto João Grilo, comandava o destino do vapor "Foz do Douro" quando foi afundado por um submarino alemão na 1.ª Grande Guerra.

Padre Grilo e o Mártir Pequenino - Aguarela de Nelson Canastra, 2016


03/02/2017

Infância Desvalida



A Tutoria Central da Infância de Lisboa

As leis e instituições de proteção de menores.


Em Maio de 1911 foi promulgada a Lei de Protecção à Infância.

"Entravam rôtos nos calabouços - rôtos, sujos e esfomeados. Entregues à vadiagem, sem domicílio, sem os cuidados de família que impõem a hygiene da alma e do côrpo, dormindo nas escadas ou nos predios em construcção, mendigando nas horas em que o furto não produzia o necessario ao alimento - para que a mendicidade produzisse, cultivavam a immundicia e o trapo. Mas se os calabouços os recebiam rôtos e sujos, entregavam-nos à rua, ou transferiam-nos para a cadeia n’um estado de miseria confrangedora. Esfrangalhados, cobertos de vermes.”
(Pedro Augusto Moreira de Castro, Juiz Presidente da Tutoria Central da Infância de Lisboa - 1912)












Mencionado por João Nunes da Costa

1927 - A Revolta no Porto


3 de fevereiro de 1927 - quando se abriram trincheiras na cidade do Porto

Há exatamente 90 anos eclodiu no Porto a primeira revolta contra o governo da Ditadura Militar de Òscar Carmona que tinha tomado conta do país na sequência do golpe de 28 de Maio 1926. Nela participaram diversas forças políticas e militares republicanas, a que se uniram numerosos civis, nomeadamente comunistas (do recém-criado PCP) e anarco-sindicalistas da CGT. O plano era que após o levantamento militar do Porto, a revolta deveria alastrar a Lisboa, onde as unidades militares aderentes, apoiadas pelos civis mobilizados pelas organizações operárias e democráticas O comité revolucionário do Norte era liderado pelo General Sousa Dias e era ainda constituído por Capitão Sarmento Pimentel, Jaime Cortesão, Comandante Jaime de Morais, José Domingues dos Santos e Raúl Proença.
A revolução iniciou-se no dia 3, com a saída do Regimento de Caçadores 9, a que se juntaram diversos outros regimentos da região Norte. Os revoltosos dirigiram-se para a Praça da Batalha e aí ocuparam os principais edifícios governamentais. O Porto é cercado pelas tropas do governo e sujeito a bombardeamentos de artilharia pesada, enquanto que os revoltosos resistem durante 4 dias. Finalmente no dia 7, já sem munições, os revoltosos são forçados a render-se. O balanço final da tentativa revolucionária no Porto é de cerca de 100 mortos, 500 feridos e várias centenas de presos, para além da destruição de numerosos edifícios.

 
3 de fevereiro de 1927 - quando se abriram trincheiras na cidade do Porto

No dia 5 desencadeia-se a revolução em Lisboa, com a ocupação de vários pontos estratégicos e a adesão de muitos populares, principalmente dos operários do Arsenal da Marinha. No dia 9 Lisboa é sujeita a diversos ataques das tropas do governo empregando metralhadoras, artilharia e mesmo bombardeamentos aéreos dos revoltosos. Esgotadas as munições os revoltosos são finalmente obrigados a render-se. Após a rendição diversos marinheiros e civis terão sido fuzilados sumariamente junto ao chafariz do Largo do Rato.
A Ditadura Militar saindo vitoriosa sobre os revoltosos vai então retaliar com uma repressão brutal sobre todo o tipo de oposição. Sucedem-se as prisões e deportações, a demissão de funcionários hostis ao regime militar e a ilegalização de todas as associações políticas e sindicais, nomeadamente o PCP e a CGT, É também criada no Porto uma “Polícia de Informações” de carácter político que será a antecessora da PVDE e da PIDE.

17/01/2017

A Burra - O Cofre anti-corrupção

Arcaz, também designado por Burra

No Museu do Hospital Termal das Caldas da Rainha existe uma peça museológica muito curiosa e invulgar. Trata-se de uma Burra, designação atribuída desde tempos remotos a uma espécie de arcaz blindado, chapeado a ferro, à prova de fogo e de roubo, destinado à reserva de bens preciosos, ouro, jóias, dinheiro e até relíquias para fins religiosos. Neste caso servia para guardar os documentos antigos, contratos, escrituras, fórmulas químicas de remédios, e logicamente os fundos de maneio do próprio hospital.

Burra, séculos XVI a XIX

 As origens da burra remontam à Idade Média, quando estes robustos e pesados cofres eram transportados no dorso de uma azémola para a recolha dos impostos régios, ou para o transporte do soldo com que se pagavam os exércitos. Os exemplares mais antigos são estriados a ferro, e apenas possuem uma fechadura. Mas os mais recentes, construídos entre as centúrias de quinhentos e oitocentos, são blindados e possuem três fechaduras, o que denuncia a preocupação de responsabilizar a sua abertura por três entidades diferentes. Este tipo de cofres eram comummente usados nas instituições públicas, onde a administração e tesouraria se repartia por diferentes responsáveis, com o fim de evitar o seu conluio num hipotético desfalque. 




Anúncio publicado na imprensa brasileira do século XIX sobre as virtudes destas "burras" francesas que seriam supostamente incombustíveis. Este tipo de cofres destinavam-se aos escritórios das grandes empresas, das agências de câmbio ou das pequenas filiais de província dos grandes bancos e argentárias.

Texto de José Carlos Vilhena Mesquita 



Encontramos outras referências sobre o uso de cofres desta natureza, como por exemplo na história da Junta do Depósito Público de Lisboa:

A Junta do Depósito Público de Lisboa remonta ao "Depósito da Cidade", criado em Lisboa em 1518, com a finalidade de proceder à recolha de objectos ou valores, por ordem da Justiça, e tendo como responsável o "depositário dos juízes da cidade", ou "depositário da cidade", "recebedor dos depósitos de Lisboa" ou, posteriormente, "tesoureiro dos depósitos".

O "recebedor dos depósitos" e o respectivo escrivão são mencionados em Carta Régia de D. Manuel, datada de 24 de Outubro de 1519, bem como o respectivo mantimento, os quais não deviam deter os cargos por um período superior a três anos. Durante o reinado de D. Sebastião o Depósito funcionava no Mosteiro de Santo Elói, utilizando-se para a arrecadação do dinheiro e objectos uma arca com três fechaduras.  


Também na conservação dos livros das Inquirições, encontramos uma referência nas Ordenações Afonsinas, no livro 1, título XXIII (“Dos Corregedores das Comarcas, e cousas que a seus Officios perteencem”), número 11:

 “E aja cada hũu Concelho hũa Arca, em que sejam postas essas Inquirições, e aja duas chaves, e hũa tenha hũu dos Juizes, e a outra hũu Taballião, qual o Corregedor entender, que he mais convinhavel pera ello (...)”