Arcaz, também designado por Burra |
No Museu do Hospital Termal das Caldas da Rainha existe uma peça
museológica muito curiosa e invulgar. Trata-se de uma Burra, designação
atribuída desde tempos remotos a uma espécie de arcaz blindado, chapeado
a ferro, à prova de fogo e de roubo, destinado à reserva de bens
preciosos, ouro, jóias, dinheiro e até relíquias para fins religiosos.
Neste caso servia para guardar os documentos antigos, contratos,
escrituras, fórmulas químicas de remédios, e logicamente os fundos de maneio do próprio hospital.
Burra, séculos XVI a XIX |
As origens da burra remontam à Idade Média, quando estes robustos e
pesados cofres eram transportados no dorso de uma azémola para a recolha
dos impostos régios, ou para o transporte do soldo com que se pagavam
os exércitos. Os exemplares mais antigos são estriados a ferro, e apenas
possuem uma fechadura. Mas os mais recentes, construídos entre as
centúrias de quinhentos e oitocentos, são blindados e possuem três
fechaduras, o que denuncia a preocupação de responsabilizar a sua
abertura por três entidades diferentes. Este tipo de cofres eram
comummente usados nas instituições públicas, onde a administração e
tesouraria se repartia por diferentes responsáveis, com o fim de evitar o
seu conluio num hipotético desfalque.
Anúncio
publicado na imprensa brasileira do século XIX sobre as virtudes destas
"burras" francesas que seriam supostamente incombustíveis. Este tipo de
cofres destinavam-se aos escritórios das grandes empresas, das agências
de câmbio ou das pequenas filiais de província dos grandes bancos e
argentárias.
Texto de José Carlos Vilhena Mesquita
Encontramos outras referências sobre o uso de cofres desta natureza, como por exemplo na história da Junta do Depósito Público de Lisboa:
Encontramos outras referências sobre o uso de cofres desta natureza, como por exemplo na história da Junta do Depósito Público de Lisboa:
A Junta do Depósito Público de Lisboa remonta ao "Depósito da Cidade",
criado em Lisboa em 1518, com a finalidade de proceder à recolha de
objectos ou valores, por ordem da Justiça, e tendo como responsável o
"depositário dos juízes da cidade", ou "depositário da cidade",
"recebedor dos depósitos de Lisboa" ou, posteriormente, "tesoureiro dos
depósitos".
O "recebedor dos depósitos" e o respectivo escrivão são mencionados em Carta Régia de D. Manuel, datada de 24 de Outubro de 1519, bem como o respectivo mantimento, os quais não deviam deter os cargos por um período superior a três anos. Durante o reinado de D. Sebastião o Depósito funcionava no Mosteiro de Santo Elói, utilizando-se para a arrecadação do dinheiro e objectos uma arca com três fechaduras.
O "recebedor dos depósitos" e o respectivo escrivão são mencionados em Carta Régia de D. Manuel, datada de 24 de Outubro de 1519, bem como o respectivo mantimento, os quais não deviam deter os cargos por um período superior a três anos. Durante o reinado de D. Sebastião o Depósito funcionava no Mosteiro de Santo Elói, utilizando-se para a arrecadação do dinheiro e objectos uma arca com três fechaduras.
Também na conservação dos livros das Inquirições, encontramos uma referência nas Ordenações Afonsinas, no
livro 1, título XXIII (“Dos Corregedores das Comarcas, e cousas
que a seus Officios perteencem”), número 11:
“E aja cada hũu Concelho hũa Arca, em
que sejam postas essas Inquirições, e aja duas chaves, e hũa tenha hũu dos
Juizes, e a outra hũu Taballião, qual o Corregedor entender, que he mais convinhavel
pera ello (...)”
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