Reino do Algarve, 1770-1780 |
OLHÀO—Villa, Algarve, cabeça do concelho do seu nome, comarca a 6 kilometros de Faro, 240 ao S. de Lisboa, 1:800 fogos. Em 1757 tinha 787 fogos.
Orago, Nossa Senhora do Rosário.
Bispado do Algarve, districto administrativo de Faro. A mitra apresentava o prior, que tinha 300$000 réis de rendimento annual.
O concelho d'Olhão, é composto de quatro freguezias, todas no bispado do Algarve — são — Moncarapaxo, Olhão, Pexão, e Quelfes [Quelfez] —todas com 3:850 fogos. .
Principiou esta povoação no meiado do século XVII, por um aggregado de cabanas de palha, em que se abrigavam os pescadores, durante o tempo das pescarias, até que se foi tornando habitação permanente, e se foram edificando casas, constituindo-se pouco a pouco uma bonita e grande aldeia, da freguezia de S. Sebastião de Quelfes. A industria da pesca foi tão prospera para este povo, que já em 1790 se não via uma só cabana de palha, mas boas e bonitas casas, com 1:133 fogos—em 1802, tinha 1:202. Em 1835 porém, o colera morbus deixou a povoação reduzida a 1:081 fogos. O bispo do Algarve, D. Simão da Gama, attendendo ao desenvol vimento da povoação, a fez parochia independente, pelos annos de 1700, construindo-lhe a sua egreja matriz, pelo mesmo tempo, É um bom, vasto e bonito templo.
Interior da Igreja da Nossa Senhora do Rosário, Olhão |
Pertenceu ao concelho de Faro até 1808, sendo então elevada á categoria de villa, e
creando-se o seu concelho, com as freguezias ditas, e demarcando-se-lhe um pequeno termo.
Deu-se-lhe então o nome de Villa Nova de Olhão, ou, Olhão da Restauração.
Já então a villa, posto ser, na sua quasi totalidade, composta de pescadores e artes correlativas, era muito florescente.
Está esta villa vantajosamente situada á beira mar; fieando-lhe para o lado de terra uma vasta o fértil planície, e para o do Oceano um grande areal, o que tudo por vezes é invadido pelas marés, até ao poço que fica á entrada da villa, a E , e que é abundante de exeellente agua potável.
Tem poucas ruas largas e alinhadas, sendo a maior parte travessas estreitas e uma rede de béccos e alfurjas, resentindo-se da desordem em que haviam sido construídas as cabanas primitivas, sem que ao edificarem-se os novos prédios houvesse a mínima regularidade; mas seguindo se as mesmas sinuosidades antigas. Todavia os seus actuaes prédios são bonitos,aceiados e bem caiados.
Os pescadores de Olhão devem a prosperidade da sua industria, não tanto à abundância de bom peixe da costa, como á sua coragem e destreza, pois se afastam, em busca de pescaria, a 70 e ás vezes a 90 kilometros ao S.O. da terra.
Exporta muita quantidade de peixe, de differentes qualidades, para todo o reino, tanto em fresco, como depois de sécco; mas a sua maior exportação é de sardinha, que colhe em quantidade prodigiosa.
Em 1790, havia aqui 114 embarcações de pesca, em continuo exercicio, alem das muitas que estavam varadas na praia, por falta de gente. Hoje apenas tem uns 50 cahiques e egual numero de lanchas.
Seria Olhão incontestavelmente uma das mais prosperas villas do Algarve, e mesmo de todo o reino, senão fossem tantos, tamanhos e tão variados os impostos (1) com que o fisco sobrecarrega a classe piscatória, a ponto de muitos pescadores terem abandonado a sua industria, e muitos, mesmo a sua pátria.
Alem dos barcos de pesca, ha uns 20 cahiques (de 3 a 4:000 arrobas de tonelagem) e alguns hiates, que se empregam na conducção de pescado, pelles de lixa, azeite de peixe, e variados fructos do paiz, para Lisboa, Porto, Gibraltar, e outros muitos portos do reino e extrangeiro.
(1) O concelho de Olhão paga, alem do imposto do sello, e das alfandegas, mais de 14 contos de réis anouaes para o thesouro publico, apezar de ter apenas 4 freguezias. No anno económico de 1873 a 1874 , pagou de decima—de pescarias, 2.927$948 réis — industrial! 3:391$891 réis—de renda de casas, 741 $218 rs.—de juros, 623$030 rs.—e predial, 6:712$672 rs.—total—14:196$759 réis.
Todas estas embarcações são aqui mesmo construídas, com madeiras extrahidas dos vastos pinhaes que lhe ficam próximos.
O território em redor da villa, e o do concelho, é em geral fertilissimo, apezar de areiento, produzindo saborosas fructas, muitas vinhas, que dão óptimo vinho, boas hortaliças, e grande numero de figueiras e alfarrobeiras. Também ha bastantes amendoeiras, oliveiras, e laranjeiras.
Tem duas boas feiras francas, ambas de três dias e muito concorridas. A primeira a 30 de abril e a segunda a 29 de setembro.
Teem os habitantes de Olhão o louvável orgulho, de terem sido os primeiros do Algarve que levantaram o grito de independência contra o jugo ominoso do sanguinario Junot, em 1808; pelo que o príncipe regente decretou que se intitulasse— Olhão da Restauração.
A Revolta contra os Franceses, 16 de Junho de 1808 |
Não contentes, estes leaes patriotas, de arriscarem as suas vidas, famílias e fazendas, praticaram uma façanha que os vindouros certamente crerão fabulosa, e com razão se ufanam de ter por patrícios Manuel Martins Garrocho, mestre —e Manuel de Oliveira Nobre, piloto—ambos pescadores, de Olhão, que, em um pequeno cahique, e só com mais três marinheiros, foram, em 1808, ao Rio de Janeiro, levar a D. João VI a noticia da expulsão dos francezes, de Portugal.
Caíque Bom Sucesso |
Medalha atribuída ao Povo de Olhão pelo Príncipe Regente |
Em 21 de dezembro de 1808, foi a villa de Olhão elevada ao titulo de marquezado, pelo mesmo príncipe regente, a favor do dito 1.° conde de Castro-Marim. O actual representante d'esta nobilíssimo família, é o sr. D. José de Mendonça da Cunha e Menezes, conde de Castro-Marim.
Em novembro de 1853 houve em Olhão e arredores, uma horrorosa tempestade. A chuva foi torrencial. Cahiram pedras de saraiva, tendo algumas mais de 400 grammas de peso, ficando esmigalhadas quasi todas as vidraças. Os raios serpenteavam em todas as direcções. Causou grandes prejuízos.
Também soffreu bastantes prejuízos esta villa, durante a guerra fratricida de 1833 a 1834. Depois da invasão do Algarve pelo duque da Terceira, Olhão declarou-se pelo partido liberal, e construiu à pressa varias trincheiras. Cercados pelos realistas, e por elles varias vezes acommettidos, causaram muitas mortes e ferimentos aos adversários; mas também muitos morreram e foram feridos; sendo ao mesmo tempo desimados pelo cólera-morbus, que então grassava em quasi todo o reino.
Posto que as casas da villa sejam em geral bonitas, não tem prédio algum digno de nota. O melhor edificio da villa, é a egreja parochial. A casa da alfandega também é um bom edifício.
Edifício da Alfândega, princípio do século XX |
Retirado de Portugal Antigo e Moderno, Diccionário Geographico
Statistico, Chorographico, Heraldico, Archeologico,
Historico, Biographico e Etymologico de Todas as Cidades,
Villas e Freguezias de Portugal,
Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal,
Lisboa 1874-1890
Sem comentários:
Enviar um comentário